Cotidiano
Pode-se dizer muito de
uma pessoa
pela forma como ela
atravessa a rua.
Ângela me falou disso.
Disse que vive no presente,
portanto atravessa a rua
no momento em que se deve atravessar.
Eu descobri, atravessando a rua,
que não sei o que é
o presente.
Sei correr de um futuro
que vejo chegar, mais rápido
do que parece,
mais violento do que é.
Acontece, Ângela, que meus passos aflitos temem o
impossível
que o tempo decida acelerar
assim, só de provocação
que me pegue de surpresa
e que eu morra na ilusão
de sair viva.
Por isso corro. Vejo ele chegando
e corro.
Sequer olho em seus olhos.
Tento ser mais rápida,
mais esperta.
Ângela, porém, não me contou da calçada.
O tropeço na minha fuga
Dei com a cara no presente
Nunca soube meu futuro.